quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tango

Pedalo pelas ruas de Malmö. Mapa na mesma mão que guia o volante, telefone na outra, dando as horas e dizendo, que mais uma vez, estou atrasada. Frederiksbergsgatan, é a rua que tenho de encontrar, número 7. Entretanto começa a chover. Eu já nem uso casaco, já aceito a chuva como uma coisa natural, é como estar ao sol ou à sombra, por isso continuo a pedalar e a procurar o local para a minha primeira aula de tango.
Lá encontro o número 7, mas a entrada nem vê-la. Aqui na Suécia não existem indicações com andares como nós temos o 1º dto, ou 3º esq. Como não havia nenhum andar a dizer Tango, lá tive que andar a perguntar aos locais, que pelos vistos também não me conseguiam ajudar.

Entretanto um senhor mete conversa: “What language do you speak?; “English, Portuguese…”; “Portuguesa? É Portuguesa?”

Acontece que este senhor era o tesoureiro da Associação de Portugueses de Malmö, que por coincidência está a alugar a cave à companhia de tango à qual pertence o meu colega de casa!

Lá fui eu encaminhada ao local que ficava numa entrada recôndita da garagem do prédio, ter o meu primeiro contacto com mais um novo mundo, onde, nos próximos meses, tentarei aprender uma nova língua, a dos corpos.

No dia seguinte o Daniel convidou-me a participar noutra aula que está a dar em Lund. O local é uma sala de festas que pertence a uma República, não esquecendo que Lund é uma cidade de estudantes. Ando, pela primeira vez, de carro em terras Malmenses. E mais uma vez sinto o prazer destas coisas pequeninas que nós tantas vezes damos como adquiridas… janela meio aberta e a brisa a entrar, vou inspirando as searas por onde passamos e olhando a linha do horizonte, numa terra onde os campos são totalmente lisos....

Em Lund, com um ambiente mais livre e criativo, tive a minha segunda aula, onde aprendi a interagir, e a ser guiada. O tango cria, inevitavelmente, um laço, uma confidência entre duas pessoas. Daí que toda uma pequena comunidade se cria em volta dele, e é impossível não dançar sem começar a conversar com o nosso par, fazer perguntas, conhecer, ainda mais caras e histórias.

Para finalizar tinha uma pequena surpresa. O Daniel esqueceu-se de me avisar que, depois da aula teoria havia aula prática, que é basicamente um baile que se estende durante a noite onde dançamos e somos convidados a dançar. Aqui foram chegando ainda mais pessoas, mais ou menos experientes, algumas caras já para mim conhecidas, que sem qualquer hesitação se libertavam de qualquer vergonha ou preconceito e apenas dançavam, pelo simples prazer de dançar.

Eu lá fui deixando-me levar, embalada pelas vozes, risos e música.

E assim eu, que nunca sei como irá acabar o meu dia, vivi mais uma noite surpresas e magia, de portas abertas para mais um novo mundo…

Ao som de: Frederico Aubele - En Cada Lugar

(Como não há no youtube deixo esta - Postales)

6 comentários:

Unknown disse...

Tens noção que consegui seguir-te até à aula de tango, vi o senhor português falar contigo - com toda a felicidade que se espera de alguém que ouve português - e quase consegui ver o baile.

Tenho uma enorme curiosidade em saber como são essas aulas!

Papoila disse...

Também quero! :D

Lígia disse...

Direito a baile de tando para quem me vier visitar!

Lígia disse...

Baile de tango, digo! ups :P

g. disse...

Ligia que sorte!

Guarda um lugar pra mim no banco de tras do carro para ver as belas paisagens Suecas...

ai ai....

Lígia disse...

Gonçalo estou-te a achar muito melancólico, a Índia é tão fixe!
Enfim, guarda-me um lugar no tuk-tuk que eu vou a caminho!
A Suécia cá continuará à tua espera quem sabe num futuro próximo!