sexta-feira, 6 de maio de 2011

Com o vazio, me encho

Que devo dizer senão isso?

Que é melhor ficar assim e enamorar-me antes de uma canção? Que devo dizer senão isso? Que é melhor desfazer-me de tudo e tornar-me tão simples que apenas devo controlar os seguintes minutos da minha liberdade?

Deixar o carro no passeio, deixar a casa cheia, os moveis e os objectos. Contar 5 coisas: uma colcha e um pente, uma muda e um candeeiro, e uma canção para me enamorar.

"Eu não percebo o que vias aqui..." Dizia-me ela, o comboio a rolar.
"Sabes, é como se te tirassem tudo, e depois percebes que esse vazio te enche muito mais que todas as coisas comuns."

Eu nunca quis nada disso... senão sair à rua e beber a vida na cara das pessoas, e olhar para os muros como se fossem meus. Fechar tudo num armário e agora sim, entre o rio e as pontes, andar lavar o sol das fachadas e azulejos.

"É como se te tirassem tudo e de repente percebes que o mundo te preencheu o espaço."

Desse vazio agora escrevo e digo.
A canção preencheu-me a noite. Tenho 5 coisas. Mas da minha janela entra o rio e as colinas e o castelo.

E assim, com o vazio, me encho.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Londres não é Inglaterra, e os Londrinos não são Ingleses."

(Disseram-me, entre trocas de autocarros, algures em Picadilly, às 3 da manhã.)




Bansky

Cidade das cidades, andas pelas ruas a tentar perceber onde te encaixas por entre estes dias cheios de nuvens, e chuvas cinzentas, e vento molhado, e esquinas tão frias como a noite.

Londres.

Um cliché de autocarros vermelhos, de armazéns e boutiques, sacos de compras e cafés.

Londres.

Apercebe-te de quem te rodeia. Olha nos olhos de quem se senta à tua frente no tube. Tenta perceber de onde vêm as gentes. Cansadas, coloridas, tardias. Vieram para cá como eu, com esperanças, decerto. Esperanças de encontrar aqui uma oportunidade, um sonho, um caminho. Agora, observa a cidade.

Londres.

A cidade que tem a capacidade de te esmagar na confusão. Apercebe-te de como ela te mostra como és pequeno, microscópico! Um átomo no universo.
És fraco. És lento, és pobre, és ninguém, ninguém te conhece, não sabes nada, não tens estilo. És imigrante, tens saudades de casa, tens frio, estás cansado. Mas, olha!

Londres!

Estás na cidade das cidades!
Observa agora como esta se abre para ti! Tens o mundo num piscar de olhos. Fazes parte de um todo, és todas as culturas, és criativo, tens estatuto, tens pinta, tens charme, tens cocktails, tens festas, tens arte, dás pontapés na arte, nasce por todas as pedras, vestes-te bem, tens dinheiro (mais que no teu país), tens amigos, estás no topo do mundo!

Londres é uma adolescente maquilhada em saltos altos, numa noite de chuva.
Londres é uma utopia. Londres é mil.

Mas a minha cidade é invisível e não a encontrei aqui, só pedaços, só momentos, só cruzamentos.
A minha cidade é pequena, e brilha o sol, e tem uma alma apenas.

E Londres... Londres é isso... e não é... não entendes?
Porque Londres... Londres não é Inglaterra....
E os Londrinos não são ingleses.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Lembrando e perguntando

"Quais são as redes de que nos construímos
Teias entrelaçadas
De nós de passos, e notas de música
E coisas que pontapeámos
No caminho
Quais são as laçadas desta malha que tricoto
De todos os sonhos do mundo
Onde em breve te enleio
Em palavras de amor e esperança
Enleio-te, neste sonho
Construindo-te, assim, em mim.
Nesta rede imensa
Da vida que me fez eu…"


Voltar a este limbo é quase como voltar a conhecer-me a mim mesma, a fazer perguntas, a conviver com a minha personalidade e a descobrir quem fui e quem sou, novamente.
Vou deixar este cidade onde estive nos últimos tempos e onde não fui feliz, para me encontrar num outro lugar qualquer que seja meu.
Voltei a escrever todos os dias. Voltei também a sentir a paz de estar bem comigo. Deve ser um sinal a dizer-me ao ouvido "Fizeste bem!". 
Acima de tudo, isso: sermos fiéis a nós próprios. E aprendermos a partir mesmo se acharmos que todos pensarão que é incorrecto.