sábado, 9 de janeiro de 2010

Desculpa


Desliguei-me do mundo.


Desculpa.

Fechei torneiras, encolhi, tornei-me sombra. Sombra das sombras. E perdi-me, de novo. Não em sonhos, não na Suécia. Na multidão.

Desculpa mundo, ter calado a voz. Desculpem pessoas, ter-vos deixado ir. Desculpem ter mudado. Ter fechado a porta, ter escondido o lar para vocês não encontrarem. Sinto tanto a vossa falta.

Desculpem, gente-criança, ter crescido. Desculpem este tom de voz, este tom de riso, tom de ser. Desculpem ter-vos desiludido.

Desculpa, erva, ter deixado de te pisar descalça. Desculpem, todas as coisas bonitas que deixei de ter tempo de olhar.

Passo os dias a pensar que desiludi a Lígia-criança (a que habitava em mim há um ano) por me ter tornado apenas mais uma, igual a tantas outras. Que tenho uma dívida, para o mundo que abracei e larguei logo de seguida. Que devo uma dívida à vida por não a tornar tão especial.

Voltei a casa há quase um ano. Quem sou é diferente de quem partiu, mas não é igual a quem fui entre a partida e o regresso. Hoje, acima de tudo, acima dos lugares, tenho saudades da minha energia para agarrar as pessoas pertinho de mim. Segue cada um a sua vida, mais perto mas tão mais longe de que alguma vez esteve.

Talvez esta seja uma forma do mundo me ensinar uma lição. Talvez amanhã compreenda.

Talvez, apenas, encare isto como uma espera. Entre sonhos, troquei vidas. Já é tarde demais.


Sou só uma borboleta a sonhar que é gente, à espera de acordar...