quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Porque hoje me deu a Saudade
Acordo de manhã cedinho... se consigo... ontem ainda estive sentada à beira mar até tão tarde! De olhos cansados inspiro os primeiros ares da manhã que cheiram a pinhiero e areia... aproveito a boleia e vou à minha vila... pelo caminho passo pela estrada rodeada por mar e rio... pelos arrosais... até avistar as casas azuis e brancas... e as cegonhas.
Na padaria o pão ainda sai quente.. compro um pão de torresmos ou uma torrada e um café. Sento-me na esplanada com um jornal, o sol quente a bater na cara... Na casa em frente uma cegonha estala o bico como se fossem castanholas, e ao meu lado alguns pescadores conversam animados. As senhoras carregam sacos cheios de fruta e legumes da horta para vender na vila... Às vezes alguém mete conversa e oferece-nos um molho de ervas aromáticas dizendo que fica bem na açorda... ou faz questão de nos mostrar a sua casa.
Uma vez um senhor bem velhinho passou por mim e disse:
"Gostam da Comporta? É uma vila cheia de mistérios..."
É tão misterioso como eu ter encontrado aí a casa para o meu coração, e hoje ter acordado a pensar nela... Ai hoje rendo-me à Saudade... do Verão, e dos meus lugares, meus segredos, meus tesouros...
Até me rendo a estes vídeos lamechas: Comporta no no minuto 2.07
Ao som de: Albert Hammond Jr - You wont be fooled by this
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Encontrei o meu lugar... e é em ti que vou ficar
Selecção Nacional de Cozinha na Alemanha
domingo, 19 de outubro de 2008
Naturbussen
Pôres do sol de Outono...
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio… Olha, anoitece!
- Brumas longínquas do País do Vago…
Veludos a ondear… Mistério mago…
Encantamento… A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago…
Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
- Vestes a terra inteira de esplendor!
Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor…
Outunal, Florbela Espanca
Por aqui tudo tão lindo... pareço uma criança a contemplar a existência pela primeira vez... as folhas douradas e o pôr do sol... as coisas simples que tanto nos esquecemos de lembrar...
Porque às vezes é tão bom estarmos apenas sós, tiramos um momento, porque queremos, e desligarmo-nos do resto do Mundo, e contudo sentirmos que nunca estivemos tão próximos dele.
Ser feliz apenas porque respiramos fundo...
(e é essa a felicidade sueca, essa sensação de paz interior)
Outono em Malmö. Maravilhoso:
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O céu é mais azul
Mas é preciso esperar para que este aquira a tonalidade perfeita... É pela tarde... De repente o sol explode em luz e o céu ganha mais cores, como se fosse pintado. Às vezes fica tão escuro que parece lilás.
"Look! I'ts that swedish sky again!"
E olho pela janela e é isto que vejo...
É mais azulinho, não é?
A semana passada e as anteriores o tempo esteve muito bom. Arrisco-me a dizer que foi a melhor semana da Suécia. Esteve frio, sim, mas não choveu, as cores da cidade misturavam-se com o Outono nas árvores, a cidade estava linda. Se é normal isto acontecer recomendo o início de Outubro como altura ideal para visitar este país.
Aproveitei para me despedir do Verão... e do dia (porque a noite quase eterna vem aí) dando umas voltas pela cidade.
Ficam as vistas... É sempre o mesmo... mas eu acho bonito :)
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Kannelbullar
Assim é impossível ficar triste!
Kanelbullar or cinnamon buns are a classic at Swedish coffee parties. During the golden age of home baking, such parties turned into orgies of sweet yeast breads, small cookies, cookies with fillings, pastries and cakes.
This tradition lives on in Sweden. If you are invited to someone’s home for coffee, you always get a cinnamon bun, a cookie or a piece of cake with it. And at cafés, dainty little cookies continue to compete with all those supersized American muffins.
Ao som de: MGMT - Handshake
Mais Couchsurfing
Um dos muitos encontros de Möllen. Foto do fim de noite, quando já mais de metade das pessoas tinha partido e já tínhamos sido repetidamente chamados à atenção que o bar tinha de fechar.
Ao som de: The Shins - Phantom Limb
domingo, 5 de outubro de 2008
Um fim de semana de Outono
Pois é… foi um fim-de-semana perfeito. Daqueles que nos enche os olhos, a alma, o coração. Daqueles recheados de histórias onde os dias parecem não ter fim, e as horas correm pela noite dentro. Perfeito na sua simplicidade de risos e conversa que poderiam ser só mais umas quaisquer… e por isso mesmo foram especiais.
Agora que assumi a minha relação de paixão pela Suécia, tenho que aceitar os altos e baixos desta condição. Quando se está apaixonado vive-se uma multiplicidade de sentimentos que não conseguimos controlar, agimos irracionalmente, não nos concentramos, não pensamos direito. Neste momento é o que sinto por esta cidade. Habituei-me à sua personalidade, encaixei nela, fiquei do seu tamanho, conheci-lhe os segredos, o seu corpo de ruas e praças que fui recheando de memórias. E já nem consigo viver longe dela.
O meu fim-de-semana começou na sexta, ás 4 da tarde. Larguei o escritório e segui directa a Copenhaga, onde me aguardava uma noite com a comunidade Portuguesa recolhida pela Ângela. Eu já não ia a Copenhaga há mais de um mês, e tenho a dizer que assim que saí do comboio me senti uma verdadeira saloia. Ao sair da estação poeirenta deparo-me com um espectáculo de estradas ruidosos, mendigos, lixo no chão… confusão. “Mas o que é isto?”. De repente encontrei-me com medo de atravessar estradas, dos encontrões das pessoas desconhecidas na rua, das vozes caóticas e poluição, da escuridão provocada pelo fumo dos carros, qual animal saído fora do seu território. Com o decorrer da noite lá me fui adaptando aos hábitos citadinos, mas sempre com a minha pequena Malmö a gritar no meu coração. Fomos beber uns cocktails, conhecemos uns senhores da Bósnia Herzegovina e acabámos a noite a beber cervejas num bar lendário frequentado por Erasmus, de paredes pintadas e ar húmido e peganhento, misturado com vozes e fumo (inflelizmente não sei os nomes, depois escrevo).
No domingo acordámos cedo e fomos ver o que se revelou como o jardim mais lindo de Copenhaga: o Frederiksberg. Por aqui o Outono já se encarregou de pintar a natureza de todos os tons entre o verde e o vermelho. E não podia ter revelado maior esplendor. Não consigo descrever o que parece ser passear dentro de um quadro…Mas a quem passar por cá nesta altura não deixe de visitar este parque maravilhoso. Levem um livro, um bloco de notas, uma câmara… e apenas deixem-se ficar…
Depois fomos ao flea market com uma amiga de Malmö que reconfortou um pouco o facto de eu ser uma saloia fora do seu território. Só tinha tralha, mas ainda assim é sempre interessante experimentar tais artefactos que parecem saídos do baú da avó.
Passada uma tarde a passear pelas ruas de Copenhaga, dou por esgotado o meu bilhete de 24 horas de transportes, que me obriga a regressar, aliviada, à minha adorada Malmö. O meu mundo.
Mais uma vez tenho uma saída típica de Malmö. Simplesmente saio de casa sem quaisquer planos. Acabo por ir jantar com uma amiga sueca ao restaurante indiano, de seguida encontramo-nos com o nosso amigo iraquiano que nos acompanha ao bar árabe, onde passamos a noite a falar de diferenças culturais. Quando esgotamos a conversa, a paciência para jogar dominó, gamão, e a resistência à sheesha, saímos, pensando ter a noite terminada. Nem por isso. À meia noite o nosso novo amigo canadiano dá sinais de vida. O resultado revela-se numa noite caseira de tarte de framboesa, vinho branco, e o meu novo vício: o jogo “Settlers”. Conversa que se estende desde as montanhas do Canadá à guerra no Iraque… e de repente são 6 da manhã… e o sono já não nos deixa mais continuar… Voltamos de bicicleta por entre uma noite de folhas douradas, beiras de canais e despedidas ao som das nossas campainhas.
Domingo acordo cansada mas não me deixo ficar. Já é tarde mas ainda tenho tempo para uma aula de Tango do Couchsurfing onde encontro o meu amigo francês, regressado de umas férias em Marrocos. Combinamos uma tarde de estudo num dos cafés alternativos de Malmö: Glassfabriken, que deve ser um ponto de visita por quem cá passar. É um café activista gerido por voluntários, e é um mundo especial. Aqui nenhum dos objectos condiz, o que no resultado final se revela a combinação perfeita.
Depois de um dia tão cheio, juntam-se mais dois amigos e passamos a tarde a suspirar, felizes, apenas, por estarmos juntos, relaxados em poltronas, desfrutando a meia luz, a música e a “cosyness” Sueca. Felizes por nos termos conhecido… felizes por estarmos aqui.
E enquanto lá fora cai a chuva, por dentro está calor…
Ao som de: Rilo Kiley - I Never