sexta-feira, 6 de maio de 2011

Com o vazio, me encho

Que devo dizer senão isso?

Que é melhor ficar assim e enamorar-me antes de uma canção? Que devo dizer senão isso? Que é melhor desfazer-me de tudo e tornar-me tão simples que apenas devo controlar os seguintes minutos da minha liberdade?

Deixar o carro no passeio, deixar a casa cheia, os moveis e os objectos. Contar 5 coisas: uma colcha e um pente, uma muda e um candeeiro, e uma canção para me enamorar.

"Eu não percebo o que vias aqui..." Dizia-me ela, o comboio a rolar.
"Sabes, é como se te tirassem tudo, e depois percebes que esse vazio te enche muito mais que todas as coisas comuns."

Eu nunca quis nada disso... senão sair à rua e beber a vida na cara das pessoas, e olhar para os muros como se fossem meus. Fechar tudo num armário e agora sim, entre o rio e as pontes, andar lavar o sol das fachadas e azulejos.

"É como se te tirassem tudo e de repente percebes que o mundo te preencheu o espaço."

Desse vazio agora escrevo e digo.
A canção preencheu-me a noite. Tenho 5 coisas. Mas da minha janela entra o rio e as colinas e o castelo.

E assim, com o vazio, me encho.