sábado, 9 de outubro de 2010

Fim da estrada

Cacela Velha - Algarve

"Chegaste ao fim, na escuridão cerrada.
(...)
Admite: és jovem ainda, mas já tentaste todos os caminhos. Eram escapatórias, desvios, falsos caminhos. Não fizeste nada de mal, não julgues que és mais culpada de que os outros. Amaste a tua mãe, desesperaste quando compreendeste que neste mundo Deus não negoceia e que cada decisão é um sacrifício. Não te conhecias a ti mesma e não querias magorar ninguém - isso seja dito em teu favor. Foi então que começaram os teus erros."

Annemarie Schwarenbach em  " Morte na Pérsia"


terça-feira, 27 de abril de 2010

BERLIIIIIIIIIIIIIM!!!!

Fui a Berlim!

A última vez que tinha passado por lá apenas conheci o aeroporto... Tinha 2 anos, o muro ainda estava de pé e eu estive no east side! Yeah!

Hoje Berlim é uma nova cidade, um novo mundo. Berlim é um livro aberto onde a história ainda é viva, ainda se ouvem gritos de dor e de liberdade, e onde agora nascem novos sorrisos. Porque todos querem tornar a cidade agradável e feliz, mas é impossível caminhar sem perceber que todos os belos edifícios estiveram outrora destruídos, que antes exitiu um muro que separou dois mundos e que agora atravessamos livremente... tanta dor e guerras sem sentido. Cicatrizes pela cidade.

Berlim é o que tanto gostei de chamar de "porcaria artística" (perdoem-me a expressão). Existe algo de arte entre o caos, grafittis, as pinturas de parede, os prédios de ocupas, as pedras quebradas. A arte de Berlim é uma mistura entre alegria, libertação e agressividade, rancor!
Assim como as gentes...

Adorei, soube-me a pouco. A "C12 de Berlim" foi impecável!

De Berlim ficam as memórias das ruas, da noite, dos turcos, da ponte para onde toda a gente vai à noite beber cerveja, da história, do fotomaton da rua de Varsóvia (não me lembro como se diz isto em alemão)...

E ficam as bolhas nos pés...






Ao som de - "Mission - Dispach"

Ainda recordando Sines

Ainda recordando o maravilhoso festival de músicas do mundo de Sines... Tive que ir a Portugal a em Julho, e aproveitei para marcar na data do festival.


Hoje deparei-me com um textinho, escrito em casa, depois do regresso de Sines, de muita música, suor e insónias... A Suécia à minha espera, a um dia de regresso. Eu ainda em fase de negação... Mal sabia o que me esperava.
Fica aqui, para recordar:

"27 de Julho - Troia

Tenho sal na pele
Poeira no corpo
E restos da noite colados em mim…

Talvez devesse lavar estas marcas, ficar limpa e perfumada.
Mas recuso-me.

O meu suor amolece-me os poros e prende os grãos de areia, colados numa noite de luar… Os pés sujos e arranhados - foram-no porque dancei sem amarras com braços erguidos ao vento. E a poeira veio trazida de todos os lugares, embalando lendas, saudades e cheiros…

Eu aqui me fico, a pensar. Toda a sujidade me acaricia como um regaço. Morna e macia, traz a saudade.

Trago esta essência de liberdade colada a mim. Esfrego as mãos na cara para cheirar a saudade, passo dedos pelos cabelos para desembaraçar sonhos. Inspiro-me… para perceber… se ainda me lembro… ou para prender tudo a mim para sempre. Pois estas emoções são grandes de mais para caberem só em meus olhos! E a liberdade não é limpa! É a comunhão com todos os elementos deixados em nós!!!

Ao lado de mim, água limpa.
Lavar o corpo, lavar a alma, lavar a vida. Preparar para outra noite, outro dia, outra etapa.
Deixar para trás…

Ainda hesito. Ainda recuso!

É cedo demais para lavar os sonhos…"



Ao som de: Nijdaay - Orchestra Baobab

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desculpa


Desliguei-me do mundo.


Desculpa.

Fechei torneiras, encolhi, tornei-me sombra. Sombra das sombras. E perdi-me, de novo. Não em sonhos, não na Suécia. Na multidão.

Desculpa mundo, ter calado a voz. Desculpem pessoas, ter-vos deixado ir. Desculpem ter mudado. Ter fechado a porta, ter escondido o lar para vocês não encontrarem. Sinto tanto a vossa falta.

Desculpem, gente-criança, ter crescido. Desculpem este tom de voz, este tom de riso, tom de ser. Desculpem ter-vos desiludido.

Desculpa, erva, ter deixado de te pisar descalça. Desculpem, todas as coisas bonitas que deixei de ter tempo de olhar.

Passo os dias a pensar que desiludi a Lígia-criança (a que habitava em mim há um ano) por me ter tornado apenas mais uma, igual a tantas outras. Que tenho uma dívida, para o mundo que abracei e larguei logo de seguida. Que devo uma dívida à vida por não a tornar tão especial.

Voltei a casa há quase um ano. Quem sou é diferente de quem partiu, mas não é igual a quem fui entre a partida e o regresso. Hoje, acima de tudo, acima dos lugares, tenho saudades da minha energia para agarrar as pessoas pertinho de mim. Segue cada um a sua vida, mais perto mas tão mais longe de que alguma vez esteve.

Talvez esta seja uma forma do mundo me ensinar uma lição. Talvez amanhã compreenda.

Talvez, apenas, encare isto como uma espera. Entre sonhos, troquei vidas. Já é tarde demais.


Sou só uma borboleta a sonhar que é gente, à espera de acordar...