quinta-feira, 3 de julho de 2008

Despertando os sentidos...

"Cor escura, a hesitar entre o vermelho intenso e o vermelho carregado. Percebe-se já uma pequena evolução cromática com alguns tons a querer tender para a cor tijolo...Presença de fruta vermelha, embora discreta, ligeiro floral apelativo e delicado, que surge acompanhado por curiosas notas de apara de lápis, couro e caixa de charutos. Nota-se um forte aroma a café acabado de moer, tal como umas sensações tostadas que valorizam o aroma.Primeira constatação na prova de boca, os taninos são possantes e robustos, muito mais vigorosos que a prova aromática poderia fazer supor. Que não sobrem quaisquer dúvidas, é um vinho másculo! No entanto, a acidez forte acaba por domar em parte a carga tanínica, embora não consiga impedir que o final de boca seja marcadamente secante. Fica-nos pois em memória e no palato uma sensação de rusticidade que não se desvanece. A entrada na boca faz-se de forma algo discreta, o seguimento é semelhante, e só no fim o vinho parece acordar, de forma algo intempestiva."

Comentário prova - Quinta de Côtto Grande Escolha 2000
Perco-me a ler as notas de prova dos vinhos... São poesia...
Um vinho tem alma, personalidade e temperamento, como as gentes... Traz consigo histórias e recordações, como se abríssemos uma velha arca de memórias... Um vinho cresce, envelhece. É novo e jovem, instável e imaturo, ou idoso, polido e maduro. Um vinho aproxima-se, olha-se, cheira-se, dá-se a conhecer. Depois, derrama-se e explode-se em sabores! Sabores de gente, de terra, de histórias da minha avó, das pedras agrestes da minha terra e mil e um sabores num segundo!

Como se eu abrisse um velho álbum de fotografias, mas pudesse mergulhar nelas e senti-las, respirá-las e vivê-las!

Depois vai... e deixa Saudade. Permanece em nós mais um pouco numa despedida mais ou menos lenta, e diz adeus com arte e sabedoria de quem carrega a História nos seus ombros.

Despertaram-me os sentidos...

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